terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Mestre João Cutileiro.

Fotografia retirada da net.


Um dia, sabe-se lá porque razão, aparece um senhor nos CTT de Lagos, esperando pacientemente, com um ramo de rosas nos braços, para oferecer à minha Mãe. Oferta que ela recebeu, mas que hoje já não sabe dizer qual a razão de tal. Alguém que presenciou a cena e que conhecia os três envolvidos, não perdeu tempo a dar a notícia, nada mais, nada menos que a meu Pai que, ao saber, se riu. 

O mais engraçado nesta história é que minha Mãe, já em casa e falando com com meu Pai, só dizia que não percebia a razão da oferta, discurso a que meu Pai respondia rindo e brincando. 

Conto esta história de família, que perdurou ao longo dos anos, porque o tal senhor, foi o Mestre João Cutileiro. Conheciam-se os três e, João Cutileiro, é uma figura da qual guardo uma imagem mental que vem da pré adolescência. Os seus filhos, estudaram comigo na mesma escola. 

E, sim. A imagem acima, a escultura de El Rei D. Sebastião, foi realizada pelo Mestre João Cutileiro, e a face da mesma baseia-se na fisionomia dos filhos. Este pequeno pormenor foi, na altura, muito falado, nem sempre pelas melhores razões, mas é real não só porque sou testemunha das parecenças, como o próprio João Cutileiro o confirmou a meu Pai.


Fotografia minha. "Igreja das Freiras". Lagos.

Foi  aqui, nesta Igreja completamente abandonada na altura, que João Cutileiro tinha uma parte do seu atelier. O restante encontrava-se no quintal de sua casa quase contigua a este local. Foram muitas as vezes que ouvi as máquinas que trabalhavam a pedra, assim como senti o pó proveniente do seu trabalho.

A imagem que tenho e sempre tive deste artista, é de alguém simples, completamente coberto de pó de pedra e que não estava nada preocupado com a aparência. Como bom homem das artes, os números não eram a sua "praia". Assim, quando era necessário, aparecia no local onde meu Pai trabalhava e, ao pousar os braços no balcão, em seu redor ficava tudo branco. 

Estas são palavras procuram ser uma homenagem a João Cutileiro que, infelizmente hoje faleceu. Comigo fica uma imagem mental doce e uma enorme tristeza por mais esta perda.



7 comentários:

  1. Tive oportunidade de o ver, um dia, embora nunca falasse com o senhor, mas meu marido me disse quem era. Vi-o uma segunda vez precisamente à porta da Igreja das Freiras quando passeava na rua, e meu marido me contava as histórias de bruxas e almas penadas que noutros tempos o povo contava que andava por ali, a Alexandra também deve ter ouvido essas histórias. Meu marido morava ali bem perto no nº 73 da rua Marreiros Neto. Não sabia que D. Sebastião se parecia com os filhos. Na baixa há uma escultura na relva, uma mulher truncada em mármore, que me disseram que também era obra dele, não sei se é verdade. A cultura portuguesa está mais pobre.
    Luz e Paz para ele.

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  2. Grata pelo interessante e sentido testemunho.

    Infelizmente, estamos iniciando muito mal este ano.

    Admiro muito a arte de João Cutileiro, que esteja em paz.

    A si e aos seus desejo um óptimo 2021 e alegre Dia de Reis.

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  3. O meu marido é natural de Lagos e tem a mesma recordação que a Alexandra, um homem simples e afável, coberto da pó branco a esculpir em pedra. As obras que ele nos deixou imortalizaram-no.
    Essa praça, é local de visita sempre que vou a Lagos, tenho casa lá perto e adoro a cidade.
    O ano está a começar mal, com grandes perdas na cultura.
    Paz à sua alma.

    Um beijinho

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  4. Por lo que nos dices una vez mas se demuestra que las grandes personas pasan sin hacer mucho ruido.
    Entiendo que para ti ha sido mayor la perdida de la persona que del personaje por la afinidad.

    Saludos.

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  5. Uma colega minha jurava que a estátua tinha o rosto da companheira do escultor, como se o modelo para o rosto imberbe do jovem rei tivesse importância...
    Sempre gostei da obra, ao contrário da maioria dos lacobrigenses...
    Até os meus alunos olhavam para a pintura de D Sebastião e ficavam atónitos, até eu explicar...
    Sempre coberto de pó branco, não sei como durou tanto tempo...
    Gostei da homenagem, Alexandra. Beijinho
    ~~~~~~~~~~~~

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  6. Bela homenagem, Alexandra.
    Um abraço

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  7. Ja estive em volta de artistas marceneiros, escultores de pedra, pintores, musicos, pedreiros, artistas com deficiencia, sapateiros, engraxadores, fazedores de bolos... enfim. So para dizer que tudo pode ser uma arte e e. Principalmente se feito com paixao e criatividade. Tudo e especial. Ja fui a fabricas e ateiers, ja vi e senti esse po de pedra que tanto falas - e que tanto mal.faz se o respirares sem mascara. Fica por todo o lado. Deixando tudo branco.

    Cada vez que lembro sei que e algo que, numa menor escala gostava de aprender ou dedicar-lhe album tempo. Tanta arte me desperta essa vontade!

    HOuvesse espaco, dinheiro e tempo ilimitado para se fazer tudo o que se deseja...😊

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