domingo, 31 de janeiro de 2021

H. Miguel Bombarda II

 

Fotografia minha.


Entre a porta de entrada do edifício principal e o portão (fotografias no post H. Miguel Bombarda I), encontra-se este recinto que, na altura, tinha bancos e mesas e era povoado por doentes que por ali deambulavam. Um deles, ainda hoje o recordo, assim que via entrar alguém vinha pedir um cigarro. A primeira vez que o cigarro me foi solicitado, tive que o encontrar à pressa, colocando os livros no chão e procurando na  mala para lho entregar, saindo a correr para a aula que, decerto, já estaria a começar. Nas vezes seguintes, tinha perto de mim os cigarros e isqueiro pois já sabia que ia ser chamada. Nunca houve uma agressão, uma voz mais alta, somente um pedido submisso.


Fotografia minha.

Subíamos as escadas que, na altura, eram bastante usadas por médicos, enfermeiros, e outros que como nós lá andavam, em direção ao salão nobre, onde as aulas teóricas eram dadas.


Fotografia retirada da net. Salão Nobre.

Usei-o precisamente como aparece nesta fotografia.


Fotografia minha.

Findas as aulas, de novo eram descidas as mesmas escadas, onde em baixo e à direita, estava uma bancada cheia de livros técnicos para venda que faziam as minhas delícias.

" O complexo está a ser tomado pela destruição. Há por todo o lado bocados de tinta amarela a descamar (...). Nos caixilhos das janelas floresceram uma pequenas campânulas verdes (...) percorro o recinto que conheci ainda com doentes. O segurança que me acompanha diz que é comum, sobretudo em dias de vento, ouvir nacos de edifício a caírem, não se sabe se de chão se de tecto."


Fotografia minha.


Também eu, percorrendo este lugar sozinha, me dei conta da destruição. Em muitos locais nem entrei, não por mim, mas para segurança de quem me deixou entrar e que ficaria com o emprego em causa, caso algo me acontecesse lá dentro.

Não nos esqueçamos que, apesar da minha linguagem saudosista, outras realidades mais árduas se passavam nestes espaços. De alguma forma, por elas tentarei passar nos restantes postes.


In, Gomes, Catarina. Coisas de Loucos, p. 29.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

As ideias atropelam-se no quotidiano da vida.

Fotografia minha.

 

O tempo escasseia para fazer o que realmente deseja, as obrigações superam a vontade que se traduz em frustração. E, ao longo dos dias, meses, anos, a mesma acaba por se transformar num vulcão em erupção que devora. Se conseguir parar, restam as memórias dos dias felizes. Tenta ultrapassar procurando nas horas que não existem, tempo para dedicar ao que mais ama. Com esforço, por minutos, horas, poucas, mergulha na sua essência e, novamente, porque o tempo não espera, é engolida pela urgência da vida, lutando para de novo regressar ao seu EU.



segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

H. Miguel Bombarda I

Fotografia minha. Placa fixada no átrio principal. 


 O Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, inicialmente instalado no edifício da Congregação da Missão dos Padres de São Vicente de Paulo, construído entre 1730 e 1750 na antiga Quinta de Rilhafoles, adquirida por aquela instituição religiosa em 1720.

Após a extinção das ordens religiosas em Portugal, o edifício do ex-convento de Rilhafoles albergou o Real Colégio Militar, a partir de 1 de Setembro de 1835, instituição que ocupou as instalações até que, por decreto de 14 de Novembro de 1848, referendado pelo duque de Saldanha e barão de Franco, por ocasião das reformas legislativas do ensino e do exército realizadas na época, foi transferido para o edifício do Convento de Mafra.


Fotografia minha. Placa fixada no átrio principal.

Após a saída do Colégio Militar foi destinado para o hospital de alienados, isto é destinado a doentes mentais, transformando-se no mais antigo Hospital Psiquiátrico do país, fundado em 1848. Como se pode ver a Rainha D. Maria II, foi uma das impulsionadoras desta instituição.


Fotografia minha. Fachada principal do H. Miguel Bombarda


Com a introdução dos psicofármacos, surgiu a ideia de que não seria necessário este tipo de instituição visto que e apesar de tudo, mais não era que um depósito de pessoas com as mais variadas problemáticas psiquiátricas. Mas seria só isso? Um depósito? Não nos teremos esquecido que aquelas pessoas, não tinham mais nada para além daquele espaço? 


Fotografia minha. Entrada principal.

Entrar neste portão foi, durante algum tempo, uma aprendizagem com estas vidas que, um dia, aqui deram entrada e não mais saíram. A eles, o meu agradecimento por me terem deixado ver outras realidades inesquecíveis.

Fonte: Wikipédia


PS: Foi deixada fotografia da entrada do átrio no post intitulado "Introdução". Se clicar nas fotografias verá com mais pormenor. 



sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Sonho.

Fotografia minha. Sala de Música. Palácio de Monserrate. Sintra

 Ao entrar pela primeira vez nesta sala, foi como se entrasse num sonho. Tinha cadeiras. Sentei-me e por ali fiquei, imaginando o som do piano a percorrer o espaço, observando as árvores e o quanto de belo podemos encontrar que nos retire os pesadelos diários.


Fotografia minha. Pormenor do teto.

"Se as coisas são inatingíveis, não é motivo para não as querer. Que tristes os caminhos se não fosse a presença mágica das estrelas."

Mário Quintana

BOM FIM DE SEMANA!


quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Introdução.

Fotografia minha. Lateral do Mosteiro de São Vicente de Fora. Lisboa.

 

O percurso académico que fiz foi de minha inteira responsabilidade e vocação. Assim, o que aprendi, foi interiorizado de forma quase natural. Uma das frases que me foi dita e que a vida enfatizou, é que a “diferença entre o normal e o patológico é da espessura de um fio de cabelo”.  Ou seja, a passagem de um lado para o outro tem um limite muito ténue, pelo que, fazer juízos de valor não é, de forma alguma, a melhor opção.

Estas palavras têm como objectivo a passagem para um tema que me tem vindo a ocupar a mente, sem contudo saber como o abordar num todo.


Fotografia minha. Átrio principal do Hospital Miguel Bombarda. 

 Por um lado, acho que se torna fastidioso falar somente de um imóvel detentor de uma longa história, sendo também objecto de polémica. Por outro, embora seja um símbolo que nem todos gostam por se tratar de um Hospital Psiquiátrico, achei que poderia de alguma forma, transformar a ideia pré-concebida que normalmente temos destes lugares. Quem lá estudou/trabalhou,  sabe que foi um lugar de grande sofrimento, mas também um local de amor. Amor? Sim! Porque para alguns dos que lá trabalharam dando largas à sua vocação, o sentimento que os uniu a estes “residentes” foi  Amor.


Fotografia minha. Placa colocada no Átrio principal do Hospital Miguel Bombarda.


“não o maltratem, que é um doente”, pedido feito pelo Dr. Miguel Bombarda, depois de ter sido baleado pelo  tenente de infantaria monárquico, Aparício Rebelo dos Santos (Braga, 1878-1943) – seu ex-paciente (acometido por ideação persecutória e comportamentos violentos). https://www.revistamar.com/conhecimento/historia/miguel-bombarda/

Assim, farei alguns postes com fotografias minhas e outras retiradas da net, tentando dar uma perspectiva emocional, histórica e critica também.

Os postes aparecerão sempre com o título “H. Miguel Bombarda”, e nem sempre serão colocados em sequência. Por isso, outras postagens poderão surgir entre este tema.


domingo, 10 de janeiro de 2021

Descoberta.

 


Igor Levit é um pianista russo-alemão que descobri hoje no programa 60 Minutos. A sua postura perante a música e a vida interessou-me de sobremaneira, visto ter havido uma identificação bastante forte. Até hoje, o único pianista que teve escolta durante um concerto, visto ter sido alvo de ameaças de morte.

O que aqui deixo é somente um excerto desse programa que não está traduzido, nem é integral. Para quem se interessar, poderá encontrar em Sic Notícias, Programa 60 Minutos, dia 10/01/2021.

Para mim, uma descoberta interessantíssima, que me levará de certeza a pesquisar cada vez mais.

Fiquem bem!

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Mestre João Cutileiro.

Fotografia retirada da net.


Um dia, sabe-se lá porque razão, aparece um senhor nos CTT de Lagos, esperando pacientemente, com um ramo de rosas nos braços, para oferecer à minha Mãe. Oferta que ela recebeu, mas que hoje já não sabe dizer qual a razão de tal. Alguém que presenciou a cena e que conhecia os três envolvidos, não perdeu tempo a dar a notícia, nada mais, nada menos que a meu Pai que, ao saber, se riu. 

O mais engraçado nesta história é que minha Mãe, já em casa e falando com com meu Pai, só dizia que não percebia a razão da oferta, discurso a que meu Pai respondia rindo e brincando. 

Conto esta história de família, que perdurou ao longo dos anos, porque o tal senhor, foi o Mestre João Cutileiro. Conheciam-se os três e, João Cutileiro, é uma figura da qual guardo uma imagem mental que vem da pré adolescência. Os seus filhos, estudaram comigo na mesma escola. 

E, sim. A imagem acima, a escultura de El Rei D. Sebastião, foi realizada pelo Mestre João Cutileiro, e a face da mesma baseia-se na fisionomia dos filhos. Este pequeno pormenor foi, na altura, muito falado, nem sempre pelas melhores razões, mas é real não só porque sou testemunha das parecenças, como o próprio João Cutileiro o confirmou a meu Pai.


Fotografia minha. "Igreja das Freiras". Lagos.

Foi  aqui, nesta Igreja completamente abandonada na altura, que João Cutileiro tinha uma parte do seu atelier. O restante encontrava-se no quintal de sua casa quase contigua a este local. Foram muitas as vezes que ouvi as máquinas que trabalhavam a pedra, assim como senti o pó proveniente do seu trabalho.

A imagem que tenho e sempre tive deste artista, é de alguém simples, completamente coberto de pó de pedra e que não estava nada preocupado com a aparência. Como bom homem das artes, os números não eram a sua "praia". Assim, quando era necessário, aparecia no local onde meu Pai trabalhava e, ao pousar os braços no balcão, em seu redor ficava tudo branco. 

Estas são palavras procuram ser uma homenagem a João Cutileiro que, infelizmente hoje faleceu. Comigo fica uma imagem mental doce e uma enorme tristeza por mais esta perda.